quarta-feira, 11 de março de 2009

Vinhos orgânicos

A agricultura orgânica é um setor bastante próspero e uma realidade atual. Apesar de ainda estar engatinhando, seu crescimento é visível. Alguns países da Europa contam com 10% de sua área agrícola cultivada por este método. A viticultura orgânica, porém, não tem a mesma projeção. Em 2000, apenas 1,6% do total da área vinícola era orgânico.Mesmo assim, já existem vinhos produzidos organicamente em países tanto no Novo como no Velho Mundo. Todos eles podem ser encontrados por aqui. Alguns são bem famosos, como os franceses Romanée-Conti — o mais cultuado tinto da Bourgogne —, o Château de Beaucastel, uma das mais renomadas vinícolas do vale do rio Rhône, e a família Chapoutier, da mesma região. Também produzem sua linha orgânica os argentinos da família Zuccardi, os chilenos da Cono Sur, da De Martino, o Kuyen Syrah Cabernet (delicioso!) e o Pargua Cabernet. Dos Estados Unidos vem o exemplar da Fetzer Vineyards. Juan Carrau produziu, em 1997, o primeiro vinho orgânico do Brasil, o Cabernet Sauvignon Juan Carrau. Em 1999 lançou um branco de gewurztraminer. Os dois rótulos deram origem à Linha Verde da Velho Museu, sua vinícola na Serra Gaúcha.Mas, afinal, o que é um vinho orgânico? A Federação Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica (IFoam) define cultura orgânica como: "sistema de manejo de produção holística que promove e melhora a saúde do agro-ecossistema, incluindo biodiversidade, ciclos biológicos e atividades biológicas dos solos". A viticultura orgânica é a aplicação destes princípios aos vinhedos. Traduzindo: dentro desta filosofia, o viticultor manejará todo um ecossistema onde a vinha é a planta predominante. Qualquer alteração em um dos elementos desse ciclo afetará todos os demais. O sistema se baseia na não utilização de herbicidas ou pesticidas químicos, que matam todo tipo de insetos e ervas. O que se procura é enfraquecer os insetos ou ervas que prejudicam o vinhedo e criar um ambiente propício para aqueles que ajudam.Os adubos químicos também são proibidos já que acabam entrando nas vinhas através da raiz. Isso também impede o esgotamento do solo. Todo o material aplicado é de origem orgânica, de preferência reutilizando materiais encontrados ao redor da região de cultivo, do mesmo ambiente. Nas adegas também não se utilizam produtos químicos na limpeza.Os viticultores orgânicos afirmam que, apesar das dificuldades, os resultados deste tipo de cultura fortalecem o vinhedo a longo prazo. A curto prazo, é verdade, ainda há muitos obstáculos. O sistema ainda é frágil em se tratando do combate a alguns fungos e pestes da vinha. A busca de clones mais resistentes é uma das soluções. O problema na Europa, porém, é que ainda não há regulamentação para a implantação desses novos clones. Tampouco há subsídios para proteção dos viticultores que têm suas produções diminuídas com a cultura orgânica.Nos Estados Unidos, onde o conceito de agricultura orgânica nasceu, a produção é bem regulamentada. Alguns produtores sentem, porém, que colocar "vinho orgânico" no rótulo ainda gera um certo preconceito. Os vinhos orgânicos podem apresentar mais fragilidades que os vinhos de cultivo normal em safras consideradas ruins. Os produtores, no entanto, garantem que em safras muito boas, dão ótimos produtos, pois a vinha fica mais fortalecida. Por terem o rendimento diminuído, os vinhos às vezes são um pouco mais caros que os normais. Não há provas ainda que o vinho orgânico traga mais benefícios à saúde do que os demais. Sua grande vantagem mesmo é a do grande equilíbrio que gera na vinha em relação ao meio ambiente e à qualidade de vida. Na prova que importa, que é da boca, os vinhos orgânicos ainda não comprovaram serem mais saborosos ou ricos do que os de cultivo normal. De fato, é sempre uma experiência interessante provar um vinho destes, que vem de um contato tão intenso com sua terra de origem. Podem ser decepcionantes ou impressionantes, em suma, como qualquer outro vinho. Ele só é cultivado, e produzido, com maior respeito à natureza. E isso pode ser uma boa razão para, pelo menos, prová-los. Trata-se, em resumo, de um vinho politicamente correto, ou seja, uma opção (que afinal de contas, faz toda a diferença) para os apreciadores de produtos que vêm da natureza.
Alexandra Corvo é formada Sommelière pela Ecole d'ingenieurs Oenologiques de Changins, na Suíça e dirige a empresa Ciclo das Vinhas, especializada em cursos de vinhos para amadores e profissionais.Contatos: 3891 1690 / 9103 0838 - contato@alexandracorvo.com.br - www.alexandracorvo.com.br

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